Izabella Pavesi

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MAESTRO JOSÉ NILO VALLE em Entrevista concedida a esta escritora  em 08.junho.2021 

Caro Maestro: A ‘grande ópera’ está na origem das formas modernas da vida musical nas grandes cidades... assim está na Barsa (item música). A grande ópera foi, já nos tempos de maior sucesso, atacada por todos os músicos sérios, como gênero sensacionalista e frívolo. E quando Giuseppe VERDI desejava abandonar os caminhos rotineiros da ópera italiana, escreveu a ‘grande ópera’ Dom Carlos. - Então, em vista disto qual a sua opinião e se as óperas e as operetas têm muita diferença?
Resposta:
Quando nos referimos ao termo ópera, temos que levar em conta todo o processo de formação histórica pela qual essa forma dramático-musical se originou e se desenvolveu através dos séculos.
Como primeiro conhecimento é importante mencionar que, na Grécia antiga, era costume incluir música entre os atos e cenas das apresentações teatrais. Este procedimento musical, denominado Intermezzi, tinha como finalidade entreter a plateia durante os intervalos das peças teatrais. Embora muito longe da forma operística atual, era já um começo de interação cênico-musical.
Cerca do ano 1.282-1.283, o trovador Adam de La Halle compôs a obra Le Jeu de Robin et de Marion, a qual, na esteira do teatro grego, também usou a música para dar maior força à representação cênica. A grande novidade que marcou época foi o uso da música integrada ao contexto geral da representação teatral e não apenas como puro entretenimento a nível intermezzo. A peça foi apresentada no Tribunal Angevin, em Nápoles, contemporaneamente à sua composição.
Florença, na Itália, é considerada a cidade berço da ópera, tal qual a conhecemos hoje. Importantíssimo centro cultural europeu do século XVI, a cidade abrigava a célebre Camerata Fiorentina, a qual reunia intelectuais e artistas da época para discutirem arte, literatura e música, com o intuito de preservar elementos da cultura grega e adaptá-los a uma nova forma de expressão artística. Um dos grandes resultados da iniciativa foi a criação da obra dramática denominada Dafne, baseada no libreto do poeta florentino Ottavio Rinuccini e musicada pelo mecenas Jacopo Corsi e pelo compositor e cantor Jacopo Peri. Dafne, composta em 1594, é tida como a composição mais antiga do gênero operístico, ou seja, a primeira ópera de que se tem conhecimento.
Após Dafne, o mundo da ópera foi alcançando, gradativamente, grande desenvolvimento, especialmente no eixo europeu da Itália, França, Áustria e Alemanha. Célebres compositores como Caccini, Monteverdi, Haendel, Lully, Rameau, Vivaldi; Mozart, Weber Meyerbeer, Bellini, Donizetti, Leoncavallo, Carlos Gomes, Verdi, Puccini, Wagner e outros criaram magníficas obras primas do gênero, as quais, ainda hoje, integram o repertório de temporadas anuais de eventos de teatros e casas de espetáculo ao redor do mundo.
Na curva ascendente de sua evolução, a ópera séria de origem barroca passou por diversas mutações, sendo as mais notórias o Singspiel austríaco de Mozart, a ópera bufa de Rossini, a opereta dos franceses, austríacos e ingleses, as óperas trágicas dos veristas Verdi e Puccini e, finalmente, o drama musical de Richard Wagner.
Verdi e Wagner, essencialmente compositores de ópera, foram contemporâneos. Coincidentemente, ambos nasceram no ano 1.813. Estilos antagônicos: Verdi, o dualismo amor e tragédia como temática recorrente; Wagner o poeta, o mitológico, o criador de uma linguagem inovadora.
Os ideais de Wagner buscavam não só despertar emoções, sentimentos, paixões e reflexões, assim como fazia Verdi, mas juntar poesia, ação e música numa unidade indissolúvel, única, agregadas ao épico, à pompa da grandiosidade e beleza cênica, capaz de arrebatar grandes plateias. Por seu lado, Verdi acompanhava os movimentos operísticos da sua época. Sabia das convenções da grande ópera francesa e das incursões que Wagner praticava nesse gênero expandido da ópera do século XIX. Das obras verdianas, a única que mais se aproximou do estilo grande ópera francês/alemão foi Don Carlo. Nela, Verdi surpreendeu a todos com uma nova forma de usar os elementos instrumentais de suporte vocal. Para os amantes do Verdi de Nabucco, Un Ballo in Maschera, Rigoletto, Il Trovatore, La Forza del Destino, e La Traviata, Don Carlo talvez seja considerada demasiado extensa, enfadonha, notadamente pouco à maneira usual do compositor. Para os teóricos, porém, foi o começo da mudança composicional que levou o grande mestre a usar esse novo approach em seus últimos trabalhos, Aïda, Otello e Falstaff. Na visão do teórico Théophile Gautier, com Don Carlo “Um novo Verdi acabava de nascer, sinfonista e melodista".

OPERETA

Paralelamente - e em contraposição às grandiosas e complicadas montagens veristas e wagnerianas da segunda metade do século XIX - compositores alemães e austríacos criaram uma forma mais leve e descontraída de fazer ópera, substituindo o emprego da tragédia e da suntuosidade epopeica e mitológica por uma temática menos drástica e depressiva, conectada ao humor, à comédia e ao divertimento social. A vida amorosa e seus percalços, retratados de forma leve e descontraída.
A opereta teve seu berço na França. O compositor alemão Jacques Offenbach (tido como o primeiro praticante do estilo) e os austríacos Johann Strauss Júnior, Franz Lehár e Franz von Suppé foram alguns dos principais compositores de operetas mais famosas que a história da música registrou.
Há quem afirme que, de maneira geral, “A grande ópera foi, já nos tempos de maior sucesso, atacada por todos os músicos sérios, como gênero sensacionalista e frívolo”.
Em primeiro plano, é preciso saber avaliar com coerência e com conhecimento de causa as razões e as verdades que circundam tal afirmação, uma vez que a mesma não se aplica a todos os personagens que fazem parte de montagens de óperas do barroco ao contemporâneo. Penso ser sensato enfatizar que o descontentamento diante do que se coloca como “gênero sensacionalista e frívolo” na grande ópera não se aplica a toda a classe de músicos que integram orquestras acompanhadoras deste tipo de performances.
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  Izabella Pavesi
                                Imagem cedida pelo Maestro José Nilo Valle.


 
Izabella Pavesi
Enviado por Izabella Pavesi em 11/07/2021


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