Izabella Pavesi

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Textos

Num dia chuvoso
            Eram milhares de segundos que eu me deprimia. Eram torrentes de palavras presas na garganta, sem meios de gritar. Era assim aquele começo de férias, a casa absolutamente deserta de vozes, de amor e de flores.
Depois de dias, apática, cegamente tateando sinais de vida, dolorosamente sentindo o pulsar no peito arfante, tomei a decisão de ir ao encontro de resquícios de vida. Ou seja, meu amor Binho.
Procurei por esse velho amor pelos números constantes na antiga cadernetinha. Ele se mudara. Liguei para o amigo que nos conhecia daqueles tempos quando juntos almoçávamos nos dias de domingo. - "Teu Binho se mudou. Foi pra Itapirubá, transferido".- Nossa! Custei a acreditar que ele estava tão distante de mim.
O amigo, Godofredo, prestou-se a tomar um café comigo, disposto a me ajudar na cata de meus caquinhos que eu, aparentemente, não suportava admiti-los. – "Quem?! Eu, triste?!  Impressão sua!".. - afirmei categoricamente, mascarando minhas cicatrizes do anoitecer de dias passados, e desconversei.
Eu buscava um calor que abrandasse perenemente a insensatez que me acometia. Virava a vida do avesso, na tentativa de noites calorosas, de sentir uma vez mais aquelas inebriantes sensações de loucura e avidez, meu céu da boca a sentir a mais gostosa de outras línguas. Eu tentava me agarrar aquela tênue sombra no mosaico de minha mente, que salpicou, em outros tempos, dum arco-íris de luz, meus dias de juventude. Deliciosos encontros! Desejei-lhe outra vez.
Assim, o achei e lhe telefonei. – "Sabrina Elisa, querida! Meu anjo que me enlouquece!" – disse uma voz rouca e deliciosa do outro lado da linha. Detivemo-nos a transcorrer sobre nosso presente e passado por longos momentos. – "Estou só aqui... venha!" - disse-me, ao final. O entusiasmo dele despertou a fera voluptuosa que adormecia dentro de mim, e abriu suas asas, saindo a voar ensandecida pelos céus daqui do sul.
Minha rota, meu amor, um pensamento só. Viajei no primeiro ônibus até Itapirubá, metida num casaco verde quentinho com capuz de nylon, pra me proteger da chuva. O frio cortante e gelado da noite, de pouco mais de cinco graus, enregelava-me as narinas e eu fungava inquieta. Desci de mochila e echarpe, o ventão me empurrando pros braços de Binho, enquanto as densas gotas da chuva e saliva se misturavam em nossas bocas sedentas. Meu coração saltitava aquecido na avalanche de paixão sonora.
             O inebriante calor que percorria minhas veias saltava corpo afora, deleitando-se naquele corpo ansioso, vertendo uma torrente de amor, delírio, suor e êxtase. Risos abafados encheram o recinto, sacudiram minha alma perdidamente apaixonada. Caprichosamente, o amei.
Assim, adormeci em seus braços, por fim, mais uma vez.


                                                            Izabella
Izabella Pavesi
Enviado por Izabella Pavesi em 14/07/2007
Alterado em 04/06/2009


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